segunda-feira, 31 de maio de 2010

Mistérios de Marte são desvendados


Agência FAPESP – Um mistério de quase 40 anos em Marte acaba de ser resolvido. Cientistas conseguiram reconstruir a formação de duas características inusitadas no polo norte do planeta: uma série de espirais e um abismo maior do que o Grand Canyon.
Em dois artigos publicados na edição desta quinta-feira (27/5) da revista Nature, John Holt, da Universidade do Texas, e colegas descrevem como usaram dados obtidos pela sonda Mars Reconnaissance Orbiter, da Nasa, a agência espacial norte-americana, para desvendar a composição da camada de gelo no norte marciano.
Na Terra, os mantos são formados principalmente pelo fluxo de gelo, mas em Marte, segundo a nova pesquisa, outras forças têm moldado as calotas. A calota ao norte é uma pilha de gelo e camadas de poeira com até 3 quilômetros de profundidade, que cobre uma área maior do que a do Estado de Minas Gerais. Ao analisar em computador os dados de radar colhidos pela sonda, os pesquisadores puderam, como se estivessem retirando as camadas de uma cebola, verificar como a cobertura de gelo evoluiu com o tempo. Uma das partes mais notáveis no polo norte marciano é a Chasma Boreale, uma depressão tão extensa como o Grand Canyon norte-americano, mas mais profundo. Desde que foi descoberta, em 1972, cientistas estimavam que a depressão teria sido formada a partir do derretimento do fundo do manto de gelo pelo calor vulcânico. Mas o novo estudo indica que tanto a Chasma Boreale como as espirais foram criadas principalmente pela ação de fortes ventos, durante milhões de anos. A nova pesquisa aponta também que a calota de gelo no norte marciano não é composta por muitas camadas relativamente planas, mas que conta com características mais complexas, entre as quais camadas com espessura e orientação diferentes ou camadas que simplesmente desaparecem em alguns pontos. “Não se sabia da existência de uma estrutura de camadas tão complexa, que registram a história de acúmulo de gelo, erosão e ação do vento. A partir de agora, poderemos recuperar uma história detalhada do clima em Marte”, disse Holt. Em 1982, Alan Howard, da Universidade da Virgínia, propôs em um artigo que as misteriosas espirais teriam sido formadas pela ação do vento, mas o trabalho foi ignorado pela comunidade científica, que bancava a hipótese da origem vulcânica. O novo estudo mostra que Howard estava certo. Segundo Holt e colegas, a formação em espiral deriva dos ventos existentes na região, formados por ar denso e relativamente frio que circula a partir dos polos e por sobre as calotas. A ação do vento é afetada pela força de Coriolis, perpendicular ao sentido do movimento do planeta. Na Terra, isso leva à formação de furacões, que giram em direções opostas nos hemisférios. Em Marte, essa força influencia nos ventos e nas depressões criadas, que assumem a forma de espirais.

Os artigos Onset and migration of spiral troughs on Mars revealed by orbital radar (vol 465 | doi:10.1038/nature09049) e The construction of Chasma Boreale on Mars (doi:10.1038/nature09050), de John Holt e outros, podem ser lidos por assinantes da Nature em www.nature.com.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Super Telescópio no Chile

O Conselho que administra o Observatório Europeu do Sul (ESO) escolheu nesta segunda-feira o local de instalação do E-ELT (European Extremely Large Telescope), um telescópio tão grande que os astrônomos não pouparam superlativos ao batizá-lo. O "telescópio europeu extremamente grande", com um espelho de 42 metros de diâmetro, será instalado no Cerro Armazones, uma montanha com 3.060 metros de altitude situada na região central do deserto do Atacama, no Chile.
O local fica a cerca de 130 quilômetros ao sul da cidade de Antofagasta e a 20 quilômetros do Cerro Paranal, onde está instalado o "telescópio muito grande" (Very Large Telescope - VLT), também do ESO."Este é um marco importante do projeto, que nos permitirá finalizar a concepção geral desta ambiciosa infraestrutura, que fará avançar enormemente o conhecimento astronômico", discursou Tim de Zeeuw, diretor geral do ESO.
Maior olho do mundo
O E-ELT vai operar na faixa do visível e do infravermelho e terá um espelho principal de 42 metros de diâmetro, tornando-se "o maior olho do mundo" vasculhando o céu.A decisão sobre o local de construção do E-ELT foi tomada pelo Conselho do ESO, composto por representantes dos catorze países-membros, e baseou-se num extenso estudo de meteorologia comparada, feito ao longo de vários anos.
Qualidade astronômica da atmosfera
Existem vários fatores a ser levados em conta no processo de seleção do local de instalação de um telescópio. O papel preponderante cabe à "qualidade astronômica" da atmosfera - o número de noites claras, a quantidade de vapor de água e a "estabilidade" da atmosfera (também conhecida por seeing).No entanto, há igualmente outros parâmetros a serem considerados, tais como os custos da construção e das operações e a sinergia científica e operacional com outras infraestruturas importantes (VLT/VLTI, VISTA, VST, ALMA e SKA, etc).
Os relatórios técnicos concluíram que o Cerro Armazones, próximo ao Paranal, destaca-se como o melhor local, uma vez que mostra o melhor balanço de qualidade do céu para todos os fatores considerados, ao mesmo tempo que pode ser operado de modo integrado com o Observatório do Paranal do ESO.Os cerros Armazones e Paranal partilham as mesmas condições ideais para a observação astronômica, dispondo de céu limpo 320 noites por ano.
Fonte:Redação do site Inovação Tecnológica

Água em asteroide

Agência FAPESP – Vida em asteroides? Longe disso, mas esses pequenos corpos celestes que gravitam em torno do Sol não são tão áridos como se achava. Evidência de água e de compostos orgânicos acabam de ser detectados na superfície de um deles.
A descoberta foi publicada na edição desta quinta-feira (29/4) da revista Nature em dois artigos, um deles com participação brasileira. As evidências dos blocos básicos da vida foram localizadas no asteroide 24 Themis, que tem cerca de 200 quilômetros de diâmetro e se encontra entre Marte e Júpiter.
Ao medir o espectro de luz infravermelha refletida pelo objeto, os pesquisadores verificaram que era consistente com água congelada. Segundo eles, todo o asteroide está coberto por um filme fino de gelo.Os cientistas também detectaram material orgânico, o que fortalece a teoria de que asteroides podem ter sido os responsáveis por trazer água e compostos orgânicos à Terra. Os dois grupos de pesquisadores usaram o telescópio de infravermelho da Nasa instalado em Mauna Kea, no Havaí.
“Os compostos orgânicos que detectamos aparentam ser cadeias extensas e complexas de moléculas. Ao caírem sobre a Terra estéril em meteoritos, essas moléculas podem ter servido como um grande pontapé inicial no desenvolvimento da vida no planeta”, disse Josh Emery, da Universidade do Tennessee, autor de um dos artigos.O outro artigo tem participação de Thais Mothé Diniz, do Observatório de Valongo da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), especialista na caracterização de pequenos corpos do Sistema Solar.
Emery destaca que encontrar gelo na superfície do 24 Themis é uma surpresa, por ela não ser fria o suficiente para que o gelo possa permanecer ali por muito tempo. “Isso implica que gelo é abundante no interior desse asteroide e talvez em muitos outros. O gelo em asteroides pode ser a resposta para o enigma de onde veio a água da Terra”, disse.A proximidade do 24 Themis ao Sol faz com que o gelo evapore. Emery e Andrew Rivkin, da Universidade Johns Hopkins, sugerem que a duração do gelo na superfície do asteroide dure de milhares a milhões de anos, dependendo da posição do objeto.Segundo eles, o gelo evaporado é contantemente substituído por um processo por meio do qual o gelo contido no interior do asteroide “sobe” aos poucos, à medida que o vapor escapa da superfície.
Os cientistas ressaltam que, como o 24 Themis é parte de uma “família” de asteroides formada a partir de um grande impacto e da consequente fragmentação de um corpo muito maior, há muito tempo, a descoberta implica que o objeto original também tinha gelo, o que tem grandes implicações para o estudo da origem do Sistema Solar.Os artigos Detection of Ice and Organics on an Asteroidal Surface (vol 464 | DOI:10.1038/nature09028), de Andrew S. Rivkin e Joshua P. Emery, e Water ice and organics on the surface of the asteroid 24 Themis (vol 464 | DOI:10.1038/nature09098), de Humberto Campins e outros, podem ser lidos por assinantes da Nature em www.nature.com.