sexta-feira, 9 de abril de 2010

ETANOL PARA O ESPAÇO

O Brasil acumula um atraso de meio seculo na propulsao de
foguetes espaciais em relacao aos norte-americanos e russos. Para tentar
dar um impulso no setor, ha' cerca de 15 anos o pais iniciou um programa
de pesquisa em propulsao liquida e que tem como base o etanol nacional.
O desafio do programa, liderado pelo Instituto de Aeronautica e Espaco
(IAE), e' movimentar futuros foguetes com um combustivel liquido que
seja mais seguro do que o propelente 'a base de hidrazina empregado
atualmente. Esse ultimo, cuja utilizacao e' dominada pelo pais, e'
corrosivo e toxico. O desafio da busca por um combustivel "verde" e
nacional tambem conta com o apoio de um grupo particular de
pesquisadores, formado em parte por engenheiros que cursam ou cursaram o
mestrado profissional em engenharia aeroespacial do IAE – realizado em
parceria com o Instituto Tecnologico da Aeronautica e com o Instituto de
Aviacao de Moscou. Liderado pelo engenheiro Jose' Miraglia, professor da
Faculdade de Tecnologia da Informacao (FIAP), o grupo se uniu para
desenvolver propulsores de foguetes que utilizem propelentes liquidos e
testar tais combustiveis. "Os propelentes liquidos usados atualmente no
Brasil estao restritos 'a aplicacao no controle de altitude de satelites
e 'a injecao orbital. Eles tem como base a hidrazina e o tetroxido de
nitrogenio, ambos importados, caros e toxicos", disse Miraglia 'a
Agencia FAPESP. Miraglia coordena o projeto "Desenvolvimento de
propulsor catalitico propelente utilizando pre-misturados" , apoiado pelo
Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). Na
primeira fase do projeto, o grupo, em parceria com a empresa Guatifer,
testou motores e foguetes de propulsao liquida com impulso de 10 newtons
(N), com o objetivo de avaliar propelentes liquidos pre-misturados 'a
base de peroxido de hidrogenio combinado com etanol ou querosene. "Os
testes mostraram que o projeto e' viavel tecnicamente. Os propulsores
movidos com uma mistura de peroxido de hidrogenio e etanol, ambos
produzidos em larga escala no Brasil e a baixo custo, apresentaram o
melhor rendimento", disse. Segundo Miraglia, a mistura apresenta algumas
vantagens em relacao 'a hidrazina ou ao tetroxido de nitrogenio, usados
atualmente. "Ela e' muito versatil, podendo ser utilizada como
monopropelente e como oxidante em sistemas bipropelentes e
pre-misturados. O peroxido de hidrogenio misturado com etanol apresenta
densidade maior do que a maioria dos propelentes liquidos, necessitando
de menor volume de reservatorio e, consequentemente, de menor massa de
satelite ou do veiculo lancador, alem de ser compativel com materiais
como aluminio e aco inox", explicou. Na segunda fase do projeto, o grupo
pretende construir dois motores para foguetes de maior porte, com 100 N
e 1000 N. "Nossa intencao e' construir um foguete suborbital de sondagem
que atinja os 100 quilometros de altitude e sirva para demonstrar a
tecnologia", disse. A empresa tambem esta' em negociacoes para uma
eventual parceria com o IAE no projeto Sara (Satelite de Reentrada
Atmosferica) , cujo objetivo e' enviar ao espaco um satelite para o
desenvolvimento de pesquisas em diversas areas e especialidades, como
biologia, biotecnologia, medicina, materiais, combustao e farmacos.
"Nosso motor seria utilizado na operacao de reentrada para desacelerar a
capsula quando ela ingressar na atmosfera. Atualmente, nao existe no
Brasil foguete de sondagem a propelente liquido. Todos utilizam
propelentes solidos", disse. Kits educativos - O grupo tambem pretende
produzir motores para foguetes de sondagem que tenham baixo custo. "Eles
seriam importantes para as universidades, com aplicacoes em estudos em
microgravidade e pesquisas atmosfericas, por exemplo", disse Miraglia.
Em trabalhos de biotecnologia em microgravidade, por exemplo, pesquisas
com enzimas sao fundamentais para elucidar processos ligados a reacoes,
fenomenos de transporte de massa e calor e estabilidade das enzimas.
Tais processos sao muito utilizados nas industrias de alimentos,
farmaceutica e quimica fina, entre outras. "Queremos atingir alguns
nichos, ou seja, desenvolver um foguete movido a propelente liquido que
se possa ajustar 'a altitude e ser reutilizavel. Esse e' outro ponto
importante, porque normalmente um foguete, depois de lancado, e'
descartado", disse. O grupo ja' construiu um motor de 250 N, que sera'
utilizado em testes. Como forma de difundir e reunir recursos para o
projeto, a empresa comercializa kits de minifoguetes e material tecnico.
"Sao direcionados principalmente para estudantes", disse Miraglia. No
site www.foguete. org, a empresa oferece tambem apostilas tecnicas e
livros digitais sobre foguetes com informacoes sobre astronautica,
exploracao espacial e aerodinamica. Mais informacoes:
www.edgeofspace. org ( Fonte: Por Alex Sander Alcantara - Agencia FAPESP
)